Se tem uma coisa que causa confusão por aí é o conceito de guarda compartilhada. Muita gente acredita que isso significa dividir o tempo da criança de forma igual entre pai e mãe, tipo “uma semana na casa de um, outra semana na casa de outro”. Spoiler: não é nada disso. Este conceito está muito mais próximo à ideia de GUARDA ALTERNADA, que é algo bem diferente.  Vamos esclarecer de vez essa questão e trazer à tona algumas reflexões sobre como o sistema atual funciona (ou não) e o que poderia mudar para o bem das crianças e das famílias.


Guarda Compartilhada é o que, mesmo?

Primeiro, vamos ao básico: guarda compartilhada não tem nada a ver com tempo igual de convivência. O que realmente acontece nesse modelo é que as decisões importantes sobre a vida da criança — como escola, saúde, viagens internacionais, essas coisas mais sérias — são tomadas em conjunto por pai e mãe.

Agora, sobre o dia a dia: normalmente, a criança tem uma residência fixa, geralmente com a mãe. E o outro genitor, quase sempre o pai, tem um regime de visitas. Em muitos casos, isso significa apenas dois finais de semana por mês e, com sorte, uma quarta-feira à noite. Não parece muito “compartilhado”, né?


Por que a Mãe Sempre Leva Vantagem?

Não está escrito na lei, não está nas decisões do STF, mas está embutido na cabeça de muita gente: a ideia de que a mãe é a “guardiã natural” da criança. Esse conceito é uma relíquia cultural, fruto de uma visão tradicional que enxerga a mulher como a mais apta para cuidar dos filhos, mas que também a coloca numa posição social subalterna, o que gera menores salários e mais dificuldades de subir na carreira. Como você vê, é uma via de mão dupla.

Essa crença, apesar de antiquada, ainda domina o imaginário coletivo e, muitas vezes, influencia o Judiciário. Assim, mesmo quando pai e mãe têm as mesmas condições de cuidar da criança, a balança pesa para o lado materno. E isso não é só frustrante para os pais: é também uma oportunidade perdida de criar um equilíbrio maior na vida da criança.


E a Guarda Alternada?

Agora entramos em um tema mais polêmico: guarda alternada. Aqui, sim, estamos falando de dividir o tempo de convivência da criança de forma igual. Uma semana com o pai, outra com a mãe, por exemplo. Enquanto a criança está com um dos genitores, esse toma as decisões do dia a dia, mas as decisões maiores continuam sendo compartilhadas.

No entanto, o direito brasileiro não reconhece formalmente esse modelo. Por quê? A justificativa geralmente é que ele causaria instabilidade emocional na criança, que ficaria “sem chão” por não ter um lar fixo. Esses argumentos vêm de estudos antigos, ultrapassados, que continuam sendo citados – em minha opinião – por puro comodismo.


O Que a Ciência Realmente Diz?

Pesquisas mais recentes jogam por terra essa história de que a guarda alternada é prejudicial. Estudos internacionais — de países como Austrália, Canadá e Estados Unidos — mostram que, quando viável, esse modelo traz benefícios enormes.

Por exemplo, a professora Linda Nielsen, da Wake Forest University, revisou 40 estudos realizados ao longo de 25 anos e descobriu que crianças que convivem pelo menos 35% do tempo com cada genitor apresentam melhores resultados emocionais, comportamentais e psicológicos. Mesmo em casos onde há conflito entre os pais, esses benefícios se mantêm.

Esses estudos mostram que a convivência equilibrada com ambos os pais – que é a base da Guarda Alternada – fortalece os vínculos familiares e dá à criança mais estabilidade emocional. Claro, isso não é para todo mundo: precisa haver proximidade geográfica entre os genitores e, pelo menos, um nível básico de diálogo civilizado. Mas, quando viável, a guarda alternada pode ser uma solução que realmente funciona.


Por Que o Judiciário Resiste à Guarda Alternada?

Aqui entra um problema que não é só cultural, mas também de atitude. Muitos juízes – principalmente os das cortes superiores – preferem se agarrar a estudos ultrapassados e argumentos de décadas atrás. É mais fácil continuar com o que já está “engessado” do que buscar novas perspectivas. Essa resistência impede o avanço de um modelo que, comprovadamente, pode ser melhor explorado para o benefício das crianças e adolescentes.


Guarda Compartilhada com Residência Alternada: Uma Alternativa Viável

Uma ideia que pode funcionar como um “meio-termo” entre os dois modelos é a residência alternada. Nesse sistema, a criança mantém a convivência equilibrada com ambos os pais, mas sem que um genitor tenha exclusividade total durante sua semana. As grandes decisões continuam sendo tomadas em conjunto, e a rotina da criança é dividida de maneira justa.

Esse modelo é mais alinhado ao espírito da guarda compartilhada e pode ser uma forma de modernizar o sistema atual, promovendo mais equidade sem causar grandes rupturas.


Mais Tempo, Mais Conexão

Se tem algo que os pais podem se beneficiar ao buscar um acordo de guarda compartilhada com residência alternada, é a oportunidade de nivelar o campo de jogo. Enquanto no modelo tradicional de guarda compartilhada o genitor não residente muitas vezes se sente relegado a um papel secundário, a residência alternada oferece uma chance real de participação ativa e equilibrada na criação dos filhos.

Mas como isso funciona na prática? E por que pode ser uma boa estratégia para os homens em disputas de guarda?

Com a residência alternada, os pais conseguem algo que muitos lutam para obter: tempo de qualidade regular com os filhos. E não estamos falando apenas de passeios aos finais de semana ou visitas rápidas durante a semana, mas de uma convivência genuína. Isso significa estar presente nas rotinas diárias, como preparar o café da manhã, ajudar nas tarefas escolares ou simplesmente conversar antes de dormir.

Essa presença mais constante não só fortalece o vínculo emocional com os filhos, mas também contribui para desmontar a ideia cultural de que o pai é um “coadjuvante” na criação.


Reduzindo o Conflito

Um dos grandes trunfos da residência alternada é a redução do conflito entre os pais. Como cada um tem um tempo exclusivo com a criança em sua residência, os atritos relacionados à logística do dia a dia diminuem. Não há mais aquela tensão constante sobre quem “manda” ou se as visitas estão sendo cumpridas à risca.

Além disso, quando os pais têm uma convivência mais equilibrada, há menos espaço para práticas como a alienação parental, que pode prejudicar profundamente a relação entre pai e filho.


Fortalecendo a Argumentação Jurídica

Para os homens, propor um acordo de guarda compartilhada com residência alternada pode ser uma estratégia jurídica inteligente. Isso porque mostra ao juiz (ou à outra parte) que há interesse genuíno em dividir responsabilidades e participar ativamente da vida do filho.

Em vez de entrar na disputa focado apenas em “ganhar mais tempo”, o pai demonstra maturidade ao buscar um modelo que prioriza o bem-estar da criança, respeitando a autonomia de ambos os genitores. Essa postura pode ajudar a quebrar preconceitos no Judiciário e, ao mesmo tempo, criar um ambiente mais favorável para a negociação.


Derrubando o Argumento do “Lar Fixo”

Um dos principais obstáculos à guarda alternada é o argumento de que a criança precisa de um “lar fixo” para ter estabilidade. Mas esse ponto pode ser rebatido, como já visto acima.

Quando o pai demonstra que pode oferecer uma rotina estruturada em sua casa — com horários regulares, apoio emocional e acompanhamento escolar, por exemplo —, fica mais difícil sustentar a ideia de que a residência alternada seria instável.

Além disso, acordos bem planejados podem definir detalhes importantes, como manter as crianças na mesma escola, minimizar mudanças abruptas e garantir que ambas as casas sejam igualmente acolhedoras.


A Importância do Diálogo e da Flexibilidade

Por fim, para que a residência alternada funcione, é essencial que os pais mantenham um diálogo minimamente saudável e estejam dispostos a ceder em alguns pontos. Demonstrar essa abertura durante as negociações pode ser um grande diferencial para o pai.

Afinal, a proposta de guarda compartilhada com residência alternada não é sobre “vencer” a disputa, mas sobre construir um ambiente onde a criança possa crescer cercada de amor e cuidado.


Um Caminho Promissor

Para os homens que buscam um papel mais ativo na criação dos filhos, a guarda compartilhada com residência alternada pode ser uma ferramenta poderosa. Mais do que garantir convivência equilibrada, ela promove a verdadeira coparentalidade — onde ambos os genitores são igualmente responsáveis pelo desenvolvimento emocional e físico da criança.

É uma oportunidade de mostrar que os pais têm tanto a oferecer quanto as mães, desmontando estereótipos e criando um novo paradigma de igualdade no Direito de Família.

Mas lembre-se: isso é algo que não é plenamente aceito no judiciário e sua melhor chance é investir em uma situação que, estrategicamente, faça o acordo que contemple esta possibilidade uma solução viável. Não é todo o caso em que isso será possível, mas um bom advogado de família poderá aumentar as suas chances nesse sentido.


Resumo da Ópera: Precisamos Atualizar o Sistema

O modelo de guarda compartilhada foi um avanço em relação à guarda unilateral, mas ainda deixa muito a desejar. A guarda alternada — ou, pelo menos, a residência alternada — pode ser uma solução mais justa e equilibrada, garantindo que as crianças tenham uma convivência saudável com ambos os pais.

Mas, para isso, precisamos de uma mudança de mentalidade no Judiciário. É hora de abandonar preconceitos, estudar as pesquisas mais recentes e colocar o bem-estar das crianças no centro das decisões. E enquanto isso não acontece, é essencial que pais, mães, advogados e profissionais do direito continuem discutindo e propondo alternativas.

Porque, no fim das contas, o que realmente importa é criar um ambiente onde as crianças possam crescer felizes, saudáveis e cercadas de amor — de ambos os lados.